Números do terceiro trimestre indicam que marasmo da economia deve prosseguir

Fonte: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/08/29/numeros-do-terceiro-trimestre-indicam-que-marasmo-da-economia-deve-prosseguir.ghtml?utm_campaign=news_sescon-rs_02092019-contabilidade&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

 

Apesar do desempenho melhor que o esperado da economia no período de abril a junho – quando o PIB mostrou alta de 0,4% –, os números já conhecidos do terceiro trimestre indicam que o marasmo econômico deve prosseguir nos próximos meses. Se esse cenário de fraqueza se confirmar, as projeções de parte dos analistas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste e do próximo ano podem sofrer uma nova rodada de piora.

O cenário atual de bancos e consultorias indica que a economia brasileira deve crescer 0,8% neste ano e próximo a 2% em 2020. Com os dados indicando – ao menos, por ora – uma continuidade da fraqueza, os analistas não descartam rebaixar as previsão para o PIB para um patamar próximo de 0,5% em 2019 e de 1,5% no ano que vem.

Esse quadro de fraqueza deve ser mais uma revés para a equipe econômica. Ao longo do ano, os números da economia brasileira têm sido marcados pela decepção. Em janeiro, a expectativa dos economistas era de que o país teria um crescimento de 2,5% em 2019 e 2020.

“A indústria deve ter caído em julho e o cenário internacional começou a afetar negativamente as expectativas agora a partir de agosto, com Argentina tendo um papel importante no efeito desaceleração para o final do ano”, afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Os dados oficiais do terceiro trimestre só deverão ser conhecidos em novembro, mas a cara ruim da economia neste início de terceiro trimestre se dá pelos chamados indicadores antecedentes dessazonalizados – aqueles que medem a temperatura da economia sem os efeitos típicos de cada mês.

O que mostram os dados deste início de trimestre:

  • Os dados dessazonalizados dos índices de confianças da indústria e dos consumidores mostram melhoraem agosto e subiram 0,8% e 1,2%, respectivamente, mas reverteram pouco a queda de julho.
  • No setor automotivo, a produção de veículos subiu 3,8% em julho, mas as vendas recuaram 6% no mesmo mês;
  • A produção de papel ondulado (usado pela indústria em embalagens, e por isso um indicador da atividade econômica) cresceu 2,9% em julho, mas depois de cair 3,1% em junho;
  • tráfego de veículos pesados subiu 2,1% em junho, após recuar 0,4% no mês anterior.

“Os dados que temos até agora não são muito animadores. Alguns indicadores são melhores, mas outros nem tanto. Não há nada que mostre uma arrancada da economia”, diz a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.

Com os dados disponíveis até a semana passada, o banco Itaú não descartava a possibilidade de um PIB negativo no terceiro trimestre. A estimativa da instituição ainda era bastante preliminar porque apenas 15% dos indicadores utilizados para calcular o desempenho econômico do período tinham sido divulgados.

O quadro ruim pode ser amenizado com injeção de recursos do PIS-Pasep e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – o governo estima que serão injetados R$ 42 bilhões na economia até 2020. Nas projeções de Itaú e Tendências, esses recursos podem aumentar PIB deste ano em 0,2 ponto percentual.

Cenário externo pior

A fraqueza da atividade no Brasil se dá num momento delicado da economia internacional. Importante parceira comercial do Brasil, a Argentina sofreu uma piora nas últimas semanas com a incerteza política rondando o país. A vitória de Alberto Fernández na disputa com o atual presidente Maurício Macri na eleição primária colocou em dúvida o andamento da agenda de reformas.

A Argentina já enfrenta um cenário econômico bastante complicado. O país está em recessão, lida com uma inflação elevada e teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para pedir recursos emprestados.

Nas contas do Itaú, uma queda de 5% na produção industrial da Argentina, pode derrubar as exportações do Brasil para o país vizinho em 25%, o que teria um impacto negativo de 0,2 ponto percentual no PIB e, portanto, anularia os efeitos da injeção de recursos do FGTS.

Nas últimas semanas, a piora do cenário internacional não se deu somente com a Argentina. O aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China e os sinais de desaceleração das maiores economias dão base para projeções de que o mundo vai crescer menos nos próximos anos, o que deve ser um outro fator a afetar o desempenho do Brasil.

“O mundo vive um período de incerteza elevada”, diz a economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Silva Matos. “Essa piora da economia mundial pode reduzir o apite ao risco dos investidores, e a nossa agenda de privatização depende de investimento externo.”

A agenda de privatizações e concessões é uma das apostas do atual governo para acelerar o crescimento econômico. Neste mês, o governo anunciou um plano para privatizar nove empresas estatais.

Mais otimista do que os seus pares, o Ibre/FGV avalia que a economia brasileira pode crescer 0,8% neste terceiro trimestre. “Não é uma visão tão negativa, mas o desafio do crescimento continua. É o desafio de crescer com investimentos”, afirma Silvia.

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